sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

Aldeia Submersa de Aceredo

 Aldeia Submersa de Aceredo 

Há precisamente 30 anos, vários habitantes da pequena aldeia de Aceredo, juntaram-se na fronteira com Portugal para uma manifestação. Nas suas casas surgiram faixas de protesto, "Estes pobos I esta Igrexa nun se rindem, Xuntos hasta a morte", e ainda na antiga igreja do Século XVIII surgia outra que dizia, "Simbolo da nossa dignidade".

Pouco tempo depois, as portas da barragem do Alto-Lindoso, começavam a fechar e o nível das águas subia até submergir por completo a velha Aldeia de Aceredo. 

Três décadas depois, o nível da água baixou é começaram a surgir as ruínas que sobravam da aldeia. Os muros das casas, as casas que resistiram à força das águas, alguns objetos pessoais, a fonte que ainda deita água, e até mesmo um carro, que agora não passa de um modelo fotográfico para as centenas de pessoas que por lá passam. 

Vamos recuar no tempo e situarmo-nos em 1983, ano em que a barragem do Alto-Lindoso foi projetada e que começaram a surgir os primeiros conflitos. Não só Aceredo foi submersa, mas também Buscalque, A Roleira, O Bao, e Lantemil. A todos estes moradores teriam sido prometidos pagamentos para abandonarem as suas casas, mas segundo eles as indemnizações chegaram demasiado tarde, e os valores não eram os acordados. 

À medida que o dia da subida das águas se aproximava, os ânimos exaltavam-se e a Igreja local construída no século XVIII, tornou-se o centro de toda a polémica com a população a exigir o seu "salvamento". Depois de tanta disputa foi o que aconteceu, foi desmontada pedra a pedra e reconstruída em Manín, uma curiosidade, é que não foi a primeira vez que esta igreja foi transladada, porque muitos anos antes teria sido transportada de Manín para Aceredo. 

Após Manifestações, greves de fome, disputas, vigias e ataques de revolta, a construção da barragem tinha terminado e as portas estavam a encerrar. 

Uma antiga moradora recordava em 2012, "Aquilo parecia um dilúvio. A 8 de Janeiro de 1992, chovia a potes e o rio Lima estava cada vez mais cheio. A hidroelétrica fechou as comportas e a albufeira começou a encher". 

Segundo se consta em 2012, vinte anos após a subida das águas, as opiniões dos antigos moradores ainda se dividiam, uns acharam que as indemnizações foram uma benção, outros recordavam a perda de suas casas como uma tragédia. Foi preciso arrancar recordações de uma vida, mas mais difícil ainda, foi desenterrar os mortos para os enterrar noutro cemitério. 

Seriam cerca de 250 habitantes e que infelizmente nem todos poderam tratar da mudança com dignidade. 

Nas aldeias mais baixas como, O Bao e Buscalque, o rio avançou de forma horripilante, "Quando demos conta já tinhamos a água pela cintura. Depois fez-se noite e a água encheu-se de galinhas mortas e gatos que queriam nadar. A Cruz Vermelha ajudou a retirar os mais idosos", recorda um morador.   

O destino destas aldeias já tinha ficado decidido várias décadas antes, quando Francisco Franco e António Salazar se reuniram para assinar um acordo de gestão de águas partilhadas em 1968. Neste acordo teria ficado definido a construção de várias barragens, incluindo esta no rio lima. Foi então que nos anos 80 os moradores receberam a notícia que o acordo se iria concretizar. 

Passado 30 anos, os ânimos já estão mais calmos e Aceredo serve agora para relembrar as recordações deixadas naquele sítio e para os mais curiosos, um ponto turístico, sem nunca esquecer o click das fotografias e o barulho dos drones a sobrevoar o local. 
















































Por: Hugo Santos 

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